sábado, 21 de maio de 2011

Livros Jogos Aventuras Fantásticas

Dia desses um amigo meu me convidou para participar de um RPG online que ele estava viciado. Me contava o barato que era, a história do jogo, os detalhes, e me chegou até com uma novidade, o clan dele no qual queria que eu fizesse parte. Já tinha ouvido esse negócio de clan antes, mas confesso que nunca entendi direito, no entanto o convite não me interessou. Falando em RPG, tem um bom tempo que não jogo, para ser exato des de a década retrasada com meu irmão, que costumava mestrar os jogos. Eu como mestre dos jogos, embora tivesse idéias mirabolantes, ele nunca gostou muito. Enfim, RPG para mim teria de ser de livro, ou criado pelos mestre dos jogos, com mapa, ou até com tabuleiro e miniaturas dos guerreiros e monstros, e a reinvenção do Role Playing Game para CD Rom, videogame, nunca me atraiu, pois deixava as opções limitadas. Não me aprofundei na questão do RPG online, mas seja como for, o bom e verdadeiro RPG para ser jogado precisa de dados e um mestre dos jogos, não é mesmo? Pensando nisso me veio à memória uma querida coleção de livros jogos que não eram RPG, mas chegava bem perto, e se transpostos para os videogames seriam sim considerados RPG; a coleção livros-jogos Aventuras Fantásticas. Lá pelo final do ano de 1992 uma novidade estava contagiando a garotada que nunca havia se interessado em abrir um livro, era o tal RPG que chegava ditando moda no Brasil, fazendo até os pais ficarem contentes com a novidade de verem os filhos se interessando pela leitura. Mas aí era necessário ter duas ou mais pessoas para jogar, e sempre tinha aquele mestre dos jogos tímido ou retardatário e volta e meia se discutia para ver quem mestrava o jogo, independente de quem fosse o dono do livro. Bom, ao menos no meu tempo era assim. Só que com os livros-jogos era permitido jogar sozinho, onde se escolhia as opções fornecidas para a condução da história, tal como seu precursor Enrola e Desenrola, antes do dito cujo RPG, mas, ao contrário deste, a saga Aventuras Fantásticas tinha seu diferencial, como se dizia no verso do livro ´´dois dados, um lápis e uma borracha são tudo que você precisa para participar dessa emocionante aventura``, e, mais emocionante ainda, as primeiras frases do trecho: ´´Parte história, parte jogo, este é um livro no qual VOCÊ se torna o herói``.Esses livros, ao meu ver, foram mais viralizados que o livro de RPG em si, era muito fácil na época encontrar um moleque com um exemplar na mão na hora do recreio. Havia aqueles que faziam coleção, e também aqueles que diziam tirar onda por ter ganho um RPG, e quando mostrava a um colega mais esperto e mais esnobe era ridicularizado ´´Isso não é RPG não``. Claro que chegou ao Brasil diversas marcas, diversas editoras de RPGs e livros jogos, como Dungeons e Dragons, Tagmar, mas o que era indiscutívelmente mais popular era a coleção Aventuras Fantásticas, todos títulos assinados por Steve Jackson e Ian Livingstone, ou por um dos dois, mas o autor mais constante na maioria era Steve Jackson. Na época eu até pensava que os dois eram irmãos, antes de ler que eram fundadores da, como se dizia na época, ´´cadeia super bem sucedida mundialmente Games Workshop ``. Me recordo de um fato engraçado, muitos anos mais tarde encontrei num sebo um exemplar de O Calabouço da Morte e levei para casa. Ao me ver lendo, minha mãe me disse ´´Gostei de ver, lendo um livro. Esse autor é bom.``, no que eu respondi ´´E quem é o autor?`` ela deu uma espiada na capa e disse: ´´Ian Livingstone.`` Eu dei uma risada e emendei ´´Como você disse que o autor é bom se nem sabia quem era?`` Eis que ela respondeu: ´´Não importa, é literatura.``


Esquecendo dos RPGs, o Livro Jogo foi uma moda que chegou e foi embora. Mas não durou pouco tempo, antes da garotada descobrir jogos de RPG hiper realistas para videogame e computador, chegou, se não a colecionar, ao menos a adquirir vários títulos. Alguns colegas dos bons tempos se queixavam amargamente de terem sido ´´enganados`` ao adquirirem As Guerras de Trolltooth achando se tratar de um jogo, sendo na verdade um romance, o único romance da coleção até então. Num acesso de fogo na palha acabei adquirindo esse, mas só meu irmão acabou lendo. Considerado por muitos como um ´´videogame de papel``, ou mesmo ´´falta de videogame``, os livros jogos foram motivo de assunto por anos e anos nas salas de aula e no recreio por garotos de diferentes idades, numa era Pré-Internet. Guardei os meus por bastante tempo até os cupins comerem ou mesmo os meus primos sumirem com eles. Eu tive os seguintes títulos: O Feiticeiro da Montanha de Fogo, A Floresta da Destruição, O Calabouço da Morte, A Nave Espacial Traveller, O Templo do Terror, Mares de Sangue, Encontro Marcado com o M.E.D.O, Planeta Rebelde, A Cripta do Vampirto, Robô Comando, Prova de Campeões, Fúria de Príncipes-O Caminho do Guerreiro/ O Caminho do Feiticeiro e Punhais da Escuridão. Alguns deles achados tempos depois, e outros comprados (ou recomprados) anos ainda mais tarde encontrados num sebo, ou trocados com colegas. Meu irmão foi quem me apresentou esse universo com A Cidadela do Caos. Cheguei a comprar o que seria, teoricamente, o primeiro RPG lançado aqui, que tinha duas aventuras, O Poço dos Desejos e As Galerias Infernais de Shaggradd, mas foi numa época que todo mundo já conhecia as histórias. Mesmo sendo viciado, nunca zerei nenhum jogo, só cheguei em dois chefões finais, Zagor, de O Feiticeiro da Montanha de Fogo, que quando o jogador está chegando no final da caverna a seu encontro, se vê num tortuoso e confuso labirinto ´´à la`` Tezeus e o Minotauro, e ainda hoje quando me encontro numa situação complicada digo ´´Estou num labirinto de Zagor.``, e Balthus Dire, de A Cidadela do Caos, mas perdi dos dois. Também, último chefe com 12 pontos de habilidade é sacanagem. Engraçada a mania dos moleques da época de não ler ´´o final``, para não perder a graça. Até hoje tem muitos finais que não li por causa disso. Só zerei roubando A Floresta da Destruição. 

Embora não goste de RPG para computador ou videogame, me amarro em jogo de temática inspirada, como o genial Castelvania. Também não era muito fan de livros jogos que não mantinham o mundo da fantasia medieval, com guerreiros, magos, monstros, universo esse influenciado por gênios como Tolkien e C.S. Lewis, e mais tarde influenciando também a escritora J.K. Rowling, inclusive, em sua obra encontramos o Basílisco, que em O Templo do Terror era um lagarto que petrificava quem olhasse diretamente para ele, mesmo que em Harry Potter fosse uma gigantesca cobra, e a Mandrágora, uma das criaturas finais de O Calabouço da Morte, que nas aventuras do jovem bruxo era uma raíz escandalosa. 

Devemos agradecer a editora Marques Saraiva pelo momento de diversão ímpar que nos proporcionou com lançamentos dos livros jogos, e mesmo não tendo sido lançado títulos novos, a editora britânica Wizard Books relançou em seu país de origem alguns títulos da coleção em 2002, com capa nova, alguns nomes de personagens trocados, porém a mesma aventura e o mesmo sistema de jogos. A Inglaterra é mesmo o berço do RPG e Livros Jogos, portanto deve sempre mantê-los acesos, os renovando, nunca deixando morrer, mesmo que transfiram tudo para dentro de uma tela. Já aqui no Brasil, alguns títulos foram relançados em 2009 pela editora Jambo.

Balthus Dire
Se eu voltaria a jogar qualquer dia desses? Bom, se não fosse numa tela e usando um controle no lugar do tradicional dado (o quadrado, de seis lados, por favor. Detesto triangulares e aqueles parecidos com uma maçã descascada), o que julgo ser um assassinato ao real espírito do jogo... a não ser, quem sabe, que alguém se habilite e crie um pelo World (isso qualquer um pode fazer, a imaginação sempre maior que o conhecimento, o que é mais importante. De que adianta um programador fodástico sem saber criar uma aventura legal?) e me mandar por Email, assim eu posso aderir a essa nova tecnologia que é o Livro-jogo pelo PC, que se assemelha ao não menos modernoso scan. Dependendo até posto nesse blog para os velhos apreciadores desse sistema de jogos. Que tal? Maníacos por Livros-jogos, por favor se manifestem. Mas tem de ser da maneira antiga, energia, habilidade, sorte e equipamentos. Dando uma olhadela nas planilhas de RPGs atuais me desanimo, me faz lembrar as formas complicadíssimas e desestimulantes de dever de matemática.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Indulto de Natal



terça-feira, 17 de maio de 2011

Rio – Um grande acerto da animação atual



Matéria minha publicada na revista Mais Mulher de Votuporanga - SP




Ainda no início do ano fomos presenteados por uma novidade de nossa terra, a animação em 3D Brasil Animado, dirigida por Mariana Caltabiano, onde dois personagens, um empresário e um cineasta fazem um tour cultural pelo nossa país. Contudo, o filme não atingiu a expectativa. Dizem por aí que a animação foi feita às pressas para rivalizar com a do também brasileiro Carlos Saldanha (Co-diretor de A Era do Gelo, Robôs e diretor de A Era do Gelo 2 e 3), Rio, que meses depois chegou às telas ocupando merecidamente o posto de animação mais rentável do ano até então. Prestando uma homenagem à sua terra, o que já era tempo considerando que as animações desde sempre ocupam um cenário predominantemente norte-americano, Rio consegue superar animações recente como Gnomeu e Julieta no quesito identificação e criatividade. O próprio título, Rio, simples e direto, já dá uma idéia da grandeza de espírito ao exportar para o mundo as histórias que só nós podemos contar. A história conta a fábula da arara azul sugestivamente batizada de Blu (em sua versão original dublada por Jesse Eisenberg, de A Rede Social, e na versão brasileira por Gustavo Pereira), espécime em extinção, que, além disso, não sabe voar. Capturada por traficantes de animais e indo parar na gélida terra de Minnesota nos EUA, a ave é adotada por Linda, adaptando-se ao clima local e às mordomias da dona, até ser descoberta pelo ornitólogo Túlio (Rodrigo Santoro) que a designa para acasalar com sua única representante fêmea viva, Jade (voz original de Anne Hathaway e em sua versão brasileira de Adriana Torres), encontrada num cativeiro em sua terra natal, o Rio de Janeiro, e perpetuar a espécie. A então ave mal acostumada tem dificuldade de adaptação com outros animais, até mesmo com o sexo oposto, o fazendo sofrer em redescobrir suas raízes e o valor da união ao se tornar novamente presa do maior predador natural, o homem.
O filme já se inicia com um lindo desfile de cores, plumas, matas e paisagens exóticas, bem ao estilo do carnaval, apresentando as belezas naturais de nossa fauna e as variadas espécies de animais, que dançam em alegria contagiante ao som de um sambão. A trilha sonora, aliás, mescla ritmos nacionais com músicas americanas, e os responsáveis por isso são nada menos que Carlinhos Brown, Sérgio Mendez, John Powell e Will. I. Am, esse último membro do grupo americano Black Eyed Peas, que também dublou um personagem, Pedro, novo amigo de Blu e Jade e companheiro do passarinho amarelo Nico.
Como não podia ser diferente, o filme se desenrola nos dias de carnaval e no tumulto característico da época, as batucadas, as paqueras, os turistas, as bebedeiras, as feirinhas locais e a malandragem. Grupos de micos agressivos representam, mesmo que sutilmente, o extenso grupo de jovens moradores de rua que cometem furtos para sobreviver. Porém, por ser uma animação com grande público infantil, e dirigida por brasileiro, o filme não peca por críticas sociais construtivas ou negativas, mantendo como vilão principal os traficantes de animais, que diga-se de passagem, impregnados pelo vício de linguagem e comportamento de um traficante de drogas suavizado, e uma ave malvada, Nigel, uma Cacatua-da-crista-amarela.


Modéstia a parte, o filme é muito agradável aos olhos, sempre fazendo perspectivas de um cenário natural, já que os personagens estão voando o tempo todo. Em 3D então, fica uma maravilha. O casal desengonçado Blu e Jade acabam ficando presos um ao outro por uma corrente, e Blu, com seu medo de voar, acaba mantendo a companheira também em terra firme, sendo esse o maior problema, já que os dois ´´não se bicam``. O casal então é apadrinhado pelo tucano Rafael (George Lopez na dublagem original e Luiz Carlos Persy na versão dublada) que entre outras coisas tenta ensinar Blu a domar o seu medo e voar, e durante a tentativa nossas paisagens naturais como as praias, o Corcovado, o Cristo Redentor e as favelas não ficam de fora. Os cenários são reproduzidos fielmente, embora em uma versão ´´reinventada`` do lugar que já existe, mas que dá uma idéia muito boa da região e para o que os turistas vão encontrar, entre eles os bairros Santa Teresa e Lapa. Embora de maneira suavizada, o filme não deixa escapar um problema real de garotos sem perspectiva de vida que acabam entrando no mercado negro. Mas como é uma fábula, o filme é recheado de bons exemplos e alegria. É um filme otimista, para crianças e adultos, já que há tempos animações não é mais exclusividade para os pequenos. Os brasileiros então ficarão encantados. E os estrangeiros também. 


Pontos altos e negativos


No final do filme os personagens humanos principais se envolvem acidentalmente em um desfile na Marquês de Sapucaí, o que a princípio seria um desastre, mas acabam levando a aprovação da platéia, em uma seqüencia que não foge a estereótipos mostrando ao mundo lá fora o que temos de melhor. Críticas sociais contra a violência e a pobreza, quando feitas, são de maneira tenra, cômica e infantil, o que pode ser um ponto positivo. O filme, afinal, não só fala bem do Brasil como também não empurra a sujeira para baixo do tapete, brasileiros, estrangeiros, adultos e crianças podem se encantar com essa fábula mesmo sabendo que o mundo não é perfeito. Quanto ao fato de todos os brasileiros falar inglês fluentemente bem pode ter sido um erro, mas uma boa solução encontrada para uma animação em que a maioria do personagens são animais e falam entre si quando os humanos não estão olhando, e nessa questão o encaixe do buldogue Luíz (na voz nacional de Júlio Chaves) como um mecânico de Santa Teresa foi genial, quando todos esperavam um humano. O uso de nomes tipicamente brasileiros para os personagens foi outro acerto. A sensualidade da mulher brasileira não foi sequer arranhada, nem os biquínis brasileiros que costumam ser mais curtos se fazem presentes na cena da praia, mantendo a moda dos largos biquínis americanos, não sei se tem alguma associação quanto ao público infantil ou se foi um descuido da produção mesmo. Também ficou devendo mais músicas de artistas de nossa terra. Mas no geral é um filme que fala ´´a nossa língua`` e apresenta ao mundo o que temos de mais belo, sem esquecer referências a outros filmes como A Fuga das Galinhas e Garfield.


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A Invasão do Mundo - Batalha de Los Angeles


As Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino da Alvorada

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